quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

A conversão de G.K. Chesterton



No dia 30 de julho de 1922, no Railway Hotel, em Beaconsfield, na Inglaterra, G. K. Chesterton se tornou católico. Na falta de uma igreja católica local, a irlandesa proprietária do hotel permitiu que o salão de baile fosse convertido numa capela improvisada. Foi ali, sob um telhado de ferro corrugado, cercado por paredes de madeira nua, que o escritor de 48 anos entrou em plena comunhão com a Igreja.

Quais foram as razões para Chesterton dar esse passo? E, levando em conta o pensamento e os escritos dele sobre cristianismo ao longo de muitos anos, por que ele demorou tanto?

A esse respeito, o presidente da Sociedade Australiana de Chesterton, Karl Schmude, recorda que “a conversão é, no fim das contas, um ato da vontade, não só da mente”. Neste caso, “a conversão de Chesterton ao catolicismo foi adiada antes por razões pessoais do que doutrinais”. Segundo Schmude, em entrevista ao jornal National Catholic Register, a relutância do escritor em se converter deveu-se essencialmente à esposa, Frances. Apesar de Chesterton ter-se batizado na Igreja da Inglaterra, sua educação religiosa foi amplamente unitarista. As crenças cristãs ortodoxas que ele adotou mais tarde se desenvolveram sob a influência de Frances, que pertencia à High Church anglicana [a “Igreja Alta” da Inglaterra]. Em 1922, Frances, ainda anglicana, não estava pronta para fazer a mesma jornada espiritual do marido. Isso só mudaria em 1926, quando ela finalmente o seguiu nas fileiras da Igreja Católica.

Por outro lado, a relutância de Frances quanto a Roma pode explicar o atraso da conversão do marido, mas não nos diz o que o motivou a se tornar católico. Para Schmude, a entrada de Chesterton na Igreja Católica foi o ponto final de uma jornada que começou com a posição intelectual estabelecida pelo escritor em “Ortodoxia” (1908), a qual abriria caminho para uma aceitação mais profunda da vida sobrenatural. Schmude vê que esse crescimento gradual de compreensão na vida de Chesterton o levou a uma atitude de humildade e gratidão pela criação. Também o fez adquirir consciência cada vez maior da natureza do mal, que faz perder a bondade e leva à necessidade do perdão. Como indica Schmude, quando Chesterton, em sua “Autobiografia” (1936), é instado a explicar por que se tornou católico, ele responde: “Para me livrar dos meus pecados”.

Schmude afirma que essa noção do pecado e a consequente sensibilidade ao mal são a chave para compreender o caminho que levou Chesterton ao catolicismo em 1922: “Malcolm Muggeridge pensava que Chesterton era ‘um espírito taciturno, angustiado e amedrontado’, e sob o brilho superficial de sua inteligência e otimismo espreitava o medo de que o mundo fosse um lugar depravado e diabólico. Só Deus poderia salvá-lo”.