segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Vocação

VOCAÇÃO

Por; Ricardo Rodrigues de Maria

O melhor texto sobre vocação que já li foi um trecho do livro "Till have faces" (a tradução seria algo como "Até que tenhamos rostos"), escrito pelo C.S. Lewis.

Neste livro, o autor faz uma releitura do mito grego de Eros e Psiquê, mudando um pouco a história, mas sem perder a essência dela, que continua a mesma:

Senta que lá vem história!

ONCE UPON A TIME...Era uma vez, um rei. Uma de suas filhas não era muito bonita, então, não teve outra opção a não ser enveredar pelos estudos kkk, e pela solidão. Já Psiquê, ao contrário, era a mais bela de todas. Todos os homens a admiravam e vinham de longe para vê-la. Mas, por tamanha beleza, todos tinham medo de "chegar nela", pois todos julgavam que ela era "muita areia para o caminhãozinho deles". E nada dela se casar. O rei já estava ficando preocupado em ver que Psiquê, tão bela, não se casava. E, então, mandou um de seus criados ao Oráculo para saber se sua filha Psiquê iria se casar. O criado então foi ao Oráculo e voltou com a resposta, dizendo ao rei que o Oráculo profetizou que Psiquê deveria se casar com um monstro e que ela não deveria jamais ver o rosto deste, e que, além disso, se ela não se casasse com aquele monstro, todo o reino seria destruído. O rei, que amava muito sua filha, ficou muito triste, mas foi contar isso para sua filha Psiquê. Ele explicou a situação para ela: que ela deveria se casar com um monstro para que o reino não fosse arruinado. Mas ele disse que entenderia se ela não aceitasse se casar com o monstro e que sempre respeita a liberdade da filha. Psiquê fica com muito medo, e pensativa. Depois de um tempo pensando bem, ela decidiu salvar o reino e diz ao seu pai que, mesmo a contragosto, se casará com o monstro, para salvar aos demais. Então o reino inteiro fez uma festa de casamento para Psiquê, e a acompanhou até o alto de um monte, onde o monstro a encontraria. Depois que a deixaram lá, todos voltaram tristes, pois sabiam que ela se casaria com um monstro e nunca mais a veriam. Psiquê, sozinha no alto do monte, chorava desolada, esperando o monstro aparecer. Ela sabia que todos os sonhos que ela tinha seriam deixados de lado. Chorando, ela adormeceu e, quando acordou, estava na frente de um maravilhoso castelo, o mais belo que ela já viu, e ela decidiu entrar no castelo. Lá dentro, ela encontra uma sala com uma mesa cheia de diferentes alimentos e bebidas. E ela senta-se na cadeira. E, então, ela percebe que as coisas parecem estar se mexendo sozinhas, sem ninguém, e, como que vivas, vê que os objetos começam a servi-la: a cadeira a coloca mais para perto da mesa; o prato se coloca na frente dela; a comida entra no prato; a bebida entra no copo... E ela começa a sua refeição, admirada em ver que todas as coisas parecem servi-la sozinhas, pois não vê ninguém ali além dela. E a tristeza que sentia antes fica para trás; ela começa a sentir alegria. Ela não via seu marido, nem via os seres invisíveis que a faziam tudo por ela. Mas com o tempo ela se acostumou a essa nova vida e, quanto mais ela aceitava a sua nova vida, mais feliz ela se sentia, e mais amada se sentia por seu marido, que era o melhor marido que alguém poderia ter, uma vez que seu marido era, na verdade, não um monstro, mas sim um Deus, o Amor.

Depois de um tempo, Psiquê estava pensando em sua irmã e em seu pai e queria voltar a vê-los e, insistindo para seu marido, este a deixou voltar. Ela então volta para sua casa. Sua irmã, ao ver Psiquê, fica espantada, ao ver que Psiquê está bem e feliz. Psiquê explica que as coisas acontecem como que naturalmente e competem para o bem dela e que seu marido é muito amoroso, mas a irmã não consegue compreendê-la e pergunta para Psiquê: "Como você consegue viver sem ver seu marido?" e convence Psiquê a dar um jeito de ver como é, de fato, seu marido a fim de ter certeza de se ele é real. Psiquê então volta para casa de seu marido e, depois de ascender uma vela, se aproxima da cama de seu marido, que estava dormindo. Ela fica totalmente extasiada e encantada pela beleza estonteante do marido oculto. Eros, seu marido, tinha pedido para que a esposa não o visse, para que ela o amasse pelo que "é" e não "pela sua beleza". Psiquê ficou tão deslumbrada pela visão do esposo que não percebeu que uma gota da cera da vela pinga no peito do amado e o acorda assustado. Ele, ao ver que ela tinha quebrado a promessa, a abandona. Sozinha e infeliz, Psiquê começou a vagar pelo mundo. Passando, assim, por vários desafios e sofrimentos impostos por Afrodite, mãe de Eros, como uma vingança por ela ter ferido o seu filho. A jovem luta  tentando recuperar o seu amor, mas acaba caindo num sono profundo. Ao vê-la tão triste e arrependida, Eros, que também sofria com a ausência da amada, implorou a Zeus que tivesse misericórdia deles. Com a concessão de Zeus, Eros usou uma de suas flechas, despertando a amada, transformando-a numa imortal, levando-a para o Olimpo. A partir daí, Eros e Psiquê nunca mais se separaram. O mito de Eros (o amor) e Psiquê (a alma) retrata a união entre o Amor e a alma. Em grego "psiquê" significa tanto "borboleta" como "alma". Uma alegoria à imortalidade da alma simboliza também a alma humana que, depois de ter passado por provações e por sofrimentos, acaba recebendo, como prêmio, o verdadeiro amor, que é eterno.

Gostou da história?
Talvez você ainda não tenha conseguido entender qual a relação dessa história com a vocação. Aqui vão algumas dicas:

Muitas vezes, as pessoas nos dizem que se dissermos sim á nossa vocação, estaremos nos casando com um monstro: que seremos infelizes. Nós mesmos pensamos que seremos infelizes, que, depois que dissermos sim, todos nossos planos, nossos sonhos ficarão para trás. Ficamos com medo de dizer sim. Procuramos desculpas. Mas, por outro lado, sabemos que precisamos dizer sim á ao chamado de Deus, porque disso depende não só a nossa salvação, mas a salvação de outras pessoas. Deus respeita nossa liberdade. Quando percebemos que o melhor a fazer é morrer para si mesmos e viver para Deus e os demais, dizemos sim a Deus, mesmo achando que não seremos tão felizes assim. “A fé é um salto no escuro”. É como uma pessoa que está no alto de um prédio em chamas e precisa pular. Ela não vê a cama elástica que está lá em baixo segurada pelos bombeiros. Ela só vê fumaça. Mas ela precisa confiar que vai dar tudo certo e que os bombeiros a pegarão. Antes de pular, dá medo, dá um frio na barriga. Mas, depois que a alma diz “sim”, ela começa a vislumbrar a beleza das coisas que Deus preparou para ela. Mesmo sem vermos os seres invisíveis que nos ajudam – como os anjos, a ajuda dos santos, de Maria – vemos que as coisas começam a dar certo! “As coisas competem para o bem daqueles que amam a Deus”, nos diz a Bíblia. E, quanto mais aceitamos a vontade de Deus, mais felicidade temos. As pessoas do mundo (a irmã de Psiquê) não conseguem compreender nossa felicidade ao termos dito sim á nossa vocação. Quanto mais amor deixamos Deus nos dar, mais Deus enche nossa alma com Seu sublime amor. “A fé é apalpar no escuro”. Não vemos tudo, não entendemos tudo. Mas devemos confiar em Deus. Confiança em Deus demonstra amor a Deus. Mas...se não confiamos, se queremos ver de fato, ter certeza, corremos o grande risco de perder a fé e perder Deus de vista. Se começamos a duvidar da nossa vocação, corremos o risco de abandoná-la e, assim, sermos infelizes. Mas Deus sempre está de braços abertos a nos esperar, como o Pai na parábola do filho pródigo. E, se voltarmos a Deus, viveremos junto com Ele para sempre. As dificuldades virão. Mas a alma que enfrenta-las com confiança e amor em Deus, receberá, como prêmio, a felicidade nesta vida e, mais ainda, a felicidade perpétua, a vida eterna. “Deus é Amor”. “O” Amor.

Espero que tenha gostado da história ;)

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