terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Moda com modéstia Parte I

Meninas: Como se vestir se pecar
Quando a Igreja nos ensina que “mulheres devem usar roupas de mulher”, ela não está definindo qual é a roupa de mulher. O que vai definir é a cultura, o ambiente, o caimento da roupa, o tipo de corte, o biótipo da mulher em específico. Isso não é relativismo. Relativismo seria relativizar a expressão “mulheres devem usar roupas de mulher”, pois isso, como uma verdade, é necessariamente absoluta e objetiva.
Já o conceito de roupa de mulher não é uma verdade, e é variável. Verdades não variam, não se adaptam, mas o conceito de roupa de mulher não é uma verdade. Temos, claro, que sempre usar roupa de mulher, mas o conceito disso pode mudar. Se eu usasse uma calça jeans com corte masculino ou um terno com gravata, igual ao meu marido, algo estaria errado, mas não uma calça ou um terninho com corte feminino: e reconhecemos bem um quando o encontramos, não?

O uso das roupas pode ser ainda abusivo ou excessivo de três maneiras: 1º) quando se gasta demasiado tempo, atenção ou dinheiro na procura por roupas e ornamentos elegantes; 2º) por vaidade, quando se procura tão-somente atrair olhares e a admiração alheia; e 3º) se o fim desejado é estimular a imaginação e a sensualidade de terceiros.

Pode-se pecar também por defeito, e isto de dois modos: 1º) se, por negligência, despreza-se a ordem e o cuidado devido ao corpo e a decência com que convém seja apresentado às pessoas; e 2º) por vanglória, se o desalinho e a pobreza das roupas servem de pretexto para simular uma humildade falsa e hipócrita. O andar extremamente simplório, para uma leiga casada ou quer se casar, viver em sociedade, e cumprir sua vocação dada por Deus, pode ser sinal de vaidade espiritual fortíssima: “Não só no esplendor e na pompa corporal, senão nos vestidos mais vis e degradantes, se pode buscar vaidade.” (Santo Agostinho, De Serm. Dom. in Monte). “Conserva”, recomenda São Francisco de Sales, “um asseio esmerado, Filotéia, e nada permitas em ti rasgado ou desarranjado. É um desprezo das pessoas com quem se convive andar no meio delas com roupas que as podem desgostar; mas guarda-te cuidadosamente das vaidades e afetações, das curiosidades e das modas levianas.”

Do que foi dito segue-se, pois, que às mulheres é lícito vestir-se e enfeitar-se com o fito de aumentar a própria beleza, desde que se evite todo escândalo e não se pretenda nenhum fim desonesto. A dificuldade a este respeito, porém, deve-se tanto ao fato de a aparência feminina provocar mais facilmente a imaginação no homem do que o contrário quanto à peculiar tendência que as mulheres têm para o uso desordenado da própria beleza e, por conseguinte, de tudo o que a possa manifestar ou acentuar. Por isto, sempre se discutiu em que circunstâncias podem as mulheres ornar-se a fim de agradar os homens. Apesar de certos rigorismos, a posição de muitos teólogos é a de que, embora possam, sim, enfeitar-se, apenas à mulher casada é lícito vestir-se de modo a seduzir ou agradar seu marido. Portanto, é contrário não só à reta razão, mas também à caridade usar qualquer tipo de vestido ou adereço que induza alguém a pecar contra a castidade. As jovens que desejam casar-se podem também, guardada a decência, vestir-se a fim de encontrar um noivo; as mulheres, porém, que não têm marido ou não desejam tê-lo nenhuma razão têm para, sem pecado, vestir-se a fim de atrair os olhares masculinos, porque desejar excitar a concupiscência de alguém nada mais é do que incentivá-lo a pecar.

Embora católicas devam, sim, cuidar do modo como se vestem, devam, sim, atentar ao pudor, ao recato, à modéstia, devam, sim, vestir-se sem desagradar a Deus, devam, sim, evitar a moda mundana, elas não seguem um “padrão rígido”, uma “lista do que pode e do que não-pode”. Católicas deveriam buscar a modéstia, mas sem aquela “neura” por medir centímetros ou procurar SEMPRE enquadrar uma determinada roupa no rol das peças proibidas. Claro, algumas vestes são absolutamente inadequadas, pela impossibilidade de adaptá-las a um modo mais recatado, ou por não ficar modesta em nenhum tipo de corpo. Chanel já ensinava: “Moda é arquitetura: é uma questão de proporções.” Há, pois, uma necessidade de saber adequar a roupa ao estilo de corpo, ao ambiente, à cultura, ao momento do dia, para que soe elegante. Uma vestimenta absolutamente deslumbrante pode, magicamente, tornar-se brega apenas pela perda do senso de proporções.

“A tendência no vestir que se tornou, aos poucos, dominante entre nós refletem a modéstia – que é necessária – mas a modéstia não está limitada às modas Tradicionais. Ao querer impor essas regras de vestimentas, nós desanimamos as pessoas mais do que as atraímos. A consequência é um tipo de libertação excessiva destas regras, que as leva à imodéstia. Uma outra consequência é um tipo de representação esclerosada da Tradição, que parece viver nos anos 50 – não muito atraente!” (Pe. Guillaume Gaud, FSSPX)


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