quarta-feira, 12 de abril de 2017

Medo da viuvez

Como podemos vencer essa insegurança que ameaça qualquer casal?
Diante do medo da morte de um ente querido, é preciso ter fé. São João diz que “esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé” (1 João 5,4). Não há outro remédio. É claro que não é bom ficarmos pensando na morte do outro;
essa preocupação deve ser colocada nas mãos de Deus, na fé, na certeza de que Ele cuida de nós, e de que tudo concorre para o bem dos que o amam (cf. Rom 8,29). A fé nos faz acreditar que, quando Deus permite que o mal nos atinja, Ele tem um desígnio atrás disso, e nos dará a graça necessária para superar o sofrimento.
A nossa vida está nas mãos de Deus; Ele no-la deu e só Ele sabe quando nos chamará para Ele. Então, não podemos ficar nos torturando, pensando ou imaginando a morte do cônjuge; a
sua vida está nas mãos de Deus. Isso seria uma tentação imposta a nós mesmos. Deus só nos dá a graça para enfrentarmos o sofrimento quando ele acontece, não antes. Assim, ficar pensando na morte do seu querido seria sofrer sem a graça de Deus; e isso dá angústia.
Jesus disse no Sermão da Montanha “Não vos preocupeis por vossa vida (…) Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? (…) Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado” (Mt 6,25-34) Então, a melhor maneira de evitar a preocupação com uma possível viuvez é viver um dia de cada vez, deixando o futuro nas mãos de Deus, que cuidará de nós. Quando já dava para eu pressentir que a morte de minha esposa estava próxima, depois de um câncer de seis anos, comecei a pedir a Deus que me preparasse para viver a viuvez. Cada vez mais, em minhas orações, eu pedia a Deus que me desse a graça de aceitar toda a vontade d’Ele e pudesse continuar a viver para Ele. Deus me socorreu na fé. Já são quase cinco anos
de viuvez, em paz com Deus e com a vida. O melhor antídoto ao medo da viuvez é apegar-se a Deus, mais até do que ao cônjuge, e viver uma vida na fé. Jesus disse que é preciso amar a Ele mais do que aos nossos entes queridos.
É esse amor – em primeiro lugar – que nos fortalecerá diante da ameaça de uma viuvez. Deus nos dá a chamada “graça de estado”, para que possamos viver bem cada etapa da vida; de modo especial, sinto essa graça de estado da viuvez que me ajuda a viver como Deus quer. É claro que não é fácil viver sem uma esposa, com quem se conviveu por anos; mas, quando se vive pela fé, a graça de estado nos ajuda, e não temos que temer. Vejo muitas mulheres e homens viúvos e viúvas vivendo bem, consolados na fé, trabalhando muito para Deus e para os outros. Não devemos pensar que a viuvez seja uma estado final de vida, mórbido; de jeito nenhum! Um viúvo tem ainda muito que fazer pela família, pela Igreja, pela salvação das almas. Pensando em tudo isso, devemos afastar de nós o medo de uma viuvez. É bom lembrar o que São Paulo disse sobre a viuvez “A mulher está ligada ao marido enquanto ele viver. Mas, se morrer o marido, ela fica livre e poderá casar-se com quem quiser, contanto que seja no Senhor” (1 Cor 7,39). “Quero, pois, que as viúvas jovens se casem, cumpram os deveres de mãe e cuidem do próprio lar, para não dar a ninguém ensejo de crítica” (I Tm 5,14). “Mas a que verdadeiramente é viúva e desamparada, põe a sua esperança em Deus e persevera noite e dia em orações e súplicas” (1 Tm 5,5). São Lucas nos mostra o caso daquela bela viúva de 84 anos, Ana, que com o velho Simeão adoravam o Menino Jesus. “Depois de ter vivido sete anos com seu marido desde a sua virgindade, ficara viúva, e agora com oitenta e quatro anos não se apartava do templo, servindo a Deus noite e dia em jejuns e orações.” (Lc 2,37).
Eu li na internet, no site acidigital.com, em 3 de maio de 2012, que na Espanha, uma viúva de 70 anos, de Valença, mãe de três filhos e avó de cinco netos, entrou para um convento de irmãs franciscanas Clarissas contemplativas (fundada em 1212 por Santa Clara de Assis), onde fez votos perpétuos. Seu nome religioso é Célia de Jesus; e antes de se consagrar vivia para ajudar os pobres. Seus filhos e netos assistiram a seus votos. Muitas viúvas se tornaram santas e ajudaram muito o Reino de Deus: Santa Isabel de Hungria, Santa Isabel de Portugal, Santa Angela de Foligno, Santa Luzia, Santa Paula, Santa Brígida; Santa Rita de Cássia, Santa Helena etc. Essas mulheres foram muito importantes para a Igreja; portanto, os viúvos não têm que enterrar suas vidas apenas dentro de casa.
Uma coisa importante a entender é que, na Igreja, não existe aposentados nem
desempregados. Sempre há trabalho no Reino de Deus para quem quer “servir ao Senhor com alegria” (Sl 99,2). Os viúvos e viúvas são pessoas maduras, muitos têm uma boa formação intelectual e podem ajudar muito a Igreja nas pastorais, sobretudo no batismo, primeira comunhão, crisma e matrimônio. Os viúvos não podem “enterrar os seus talentos”, pois Deus vai nos cobrar isso. A Igreja precisa de nossa experiência, nossos lábios e mãos. Quando nos colocamos à disposição de Deus para servi-lo, logo Ele nos dá um trabalho adequado à nossa condição. E isso nos faz felizes.
Hoje, posso dizer que trabalho ainda mais do que no tempo que eu não era ainda viúvo. Hoje, tenho mais tempo para as coisas de Deus. E isso me dá forças, alegria e vida. Tudo isso que a Igreja nos ensina deve ser um antídoto ao medo da viuvez. Qualquer que seja o nosso estado de vida, podemos ser felizes se vivermos em Deus e para Ele.

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